domingo, 8 de março de 2015

PAULO COELHO E JOSÉ SARAMAGO

       Prefiro ler o autor do Diário de um mago a ler José Saramago, autor português que admiro, mas que usou uma pontuação horrível.  O escritor brasileiro é muito injustiçado. Os críticos (entre os quais há os que nunca devem ter publicado um texto literário sequer) acusam-no de:

       a) divulgar um esoterismo barato, que diz ao leitor o que ele quer ler;

       b) e cometer erros de português.

Letra a:

       Ninguém nega que o autor brasileiro é esotérico. O problema está em que poucos veem que, antes de qualquer outra coisa, ele é um contador de histórias. Nunca se propôs ser um literato à altura de Machado de Assis. Portanto, deve ele ser avaliado dentro da sua proposta, proposta essa que nem sempre faz com que o público leia apenas o que quer saber. Veronika decide morrer, por exemplo, é um tapa na cara de dogmas cristãos e de certas convenções. Não é isso o que a boa literatura faz? Não é ela que causa no leitor um estranhamento e nele incute uma visão de mundo diferente? Detalhe: Paulo Coelho, que não se tem revelado nem amargo, nem revoltado, nem comunista, instiga, com o referido romance (baseado em fatos reais), reflexões que poucos autores me despertaram, e faz isso com uma pontuação muito melhor do que a usada por José Saramago, aclamado pelos críticos.

Letra b:

       Se o artista da palavra pode transgredir a gramática normativa em nome da criatividade, não faz sentido que Paulo Coelho seja tachado como sendo ignorante enquanto outros são vistos como inventivos que, com engenho, revolucionam a sintaxe. Tenho visto erros de professores da faculdade de Letras: já li, em textos seus, "trataM-se de", quando o correto é "tratA-se de". Já achei vírgula entre sujeito e verbo também. Afinal, como saber a diferença entre a "criatividade" e a ignorância? Desconfio dos professores da área de Letras; não vejo motivo para confiar nos conhecimentos gramaticais de críticos literários, que estão na mesma área.

       Paulo Coelho pode não produzir a melhor literatura, mas não vejo no trabalho de seus detratores a função do bom crítico: a de apontar as falhas do autor para que este melhore. Se Coelho produz e reproduz esoterismo em milhões de exemplares vendidos, se ele faz apenas fancaria literária, seus detratores são fanqueiros também: fanqueiros da crítica literária.

(Duque de Caxias, em 27/2/2015, no Facebook.)

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