ENTREVISTA COM O ESCRITOR THIAGO LUZ
Os leitores que ainda não se desfizeram do hábito mercadológico de ler tão só os livros que fazem sucesso e recebem destaque nos veículos mais prestigiados de comunicação deveriam conhecer os motivos para abandonar esse vício. Um deles é a produção literária de Thiago Oliveira de Carvalho, que usa o nome artístico Thiago Luz.
O escritor carioca, nascido em 1982, já recebeu prêmios e um bom número de troféus. Para mencionar alguns: 1º lugar no XXVII Concurso de Poesia “Brasil dos Reis”, na categoria nacional verso livre (Angra dos Reis/RJ), em 2012; o 2º lugar no Prêmio UFF de Literatura, na categoria crônica, em 2013; e o 1° Lugar no 1º Concurso Nacional da ABRAMMIL (Academia Brasileira de Medalhística Militar) em poesia livre, em 2014.
Seus versos são de um lirismo rico em metáforas, e sua prosa também. Seu romance, Bravo! Quando os homens se tornam Heróis, não é um bestseller, mas merece um lugar de mais destaque (sobretudo quando se nota a qualidade de certos livros, que, a despeito do lucro, desperdiçam o espaço de prateleiras de grandes livrarias).
Quem não conhece Thiago Luz pode conhecer-lhe a trajetória literária em seu site (http://www.thiagoluz.com.br/THL/) e em seu blog (http://www.blogthiagoluz.blogspot.com.br/). A falta de conhecimentos prévios sobre o autor não torna menos interessante a entrevista que se pode ler abaixo.
RP: Apesar de ser jovem (como se isso fosse um impedimento), você tem uma produção rica e muitos prêmios. Quantas horas por dia você gasta escrevendo?
TL: Sou um cara muito indisciplinado no que se refere ao ato de escrever. Não tenho um horário ou uma quantidade de horas por dia, mas estou sempre escrevendo, tento escrever pelo menos uma hora por dia, mas nem sempre dá. Muitas vezes eu fico “escrevendo” mentalmente, até digerir completamente a ideia ou uma parte do texto para só então evacuar minha arte num papel ou na tela do computador.
RP: Você é técnico em mecânica, e chegou a cursar Engenharia. Por que escolheu áreas tão diferentes das ciências humanas e da literatura? (Talvez esta pergunta não tenha muita razão de ser.)
RP: Apesar de ser jovem (como se isso fosse um impedimento), você tem uma produção rica e muitos prêmios. Quantas horas por dia você gasta escrevendo?
TL: Sou um cara muito indisciplinado no que se refere ao ato de escrever. Não tenho um horário ou uma quantidade de horas por dia, mas estou sempre escrevendo, tento escrever pelo menos uma hora por dia, mas nem sempre dá. Muitas vezes eu fico “escrevendo” mentalmente, até digerir completamente a ideia ou uma parte do texto para só então evacuar minha arte num papel ou na tela do computador.
RP: Você é técnico em mecânica, e chegou a cursar Engenharia. Por que escolheu áreas tão diferentes das ciências humanas e da literatura? (Talvez esta pergunta não tenha muita razão de ser.)
TL:
Eu comecei a fazer o curso técnico de mecânica com 15 anos, apesar de eu já ter
gosto pela escrita naquela época, não pensava em publicar ou mesmo mostrar para os outros o que escrevia,
era algo meu, como um diário. Enfim, queria ter uma profissão, algo que me
possibilitasse uma melhora material. Com a engenharia foi um pouco diferente
porque eu já tinha passado num concurso público... Fazia UERJ e lá pelo
sexto período eu já estava matando aula pra ficar na Quinta da Boa Vista escrevendo, então
chutei o balde...
RP:
O seu gosto pelo trabalho de escrever se manifestava na infância e na
adolescência?
TL:
Comecei a escrever lá pelos 14 anos,
influenciado pelas letras do Renato Russo, daí a começar pela poesia e não pela
prosa: a ideia inicial era criar canções, que acabou desaguando na poesia. A
prosa veio bastante tempo depois e nasceu pela necessidade de dar vida a um
personagem...
RP:
Quais foram as primeiras reações de amigos e familiares quando souberam
que é escritor? Como as outras pessoas reagem quando descobrem que você é prosador e
poeta?
TL:
Muitos só descobriram quando eu passei a receber prêmios ou ter textos
publicados em antologias. Posso estar errado, mas acho que alguns deles gostam mais
dos troféus que eu ganho do que dos textos que eu publico, enfim, acho que a
maioria das pessoas não liga pra literatura e muitos só leem o que está na moda
ou entre os mais vendidos. De uma forma geral, as pessoas só passam a te considerar
artista quando você faz sucesso, aparece na Globo, no
Jô, coisas do tipo, se não faz, encaram isso como um hobby, algo que você
faz quando não está ganhando dinheiro num trabalho convencional.
RP:
Escreve à mão? Faz muitos rascunhos?
TL:
Às vezes sim, mas geralmente no computador. O
rascunho é fundamental. Ele pode ser uma péssima obra, mas é um ótimo ponto
de partida. Eu gosto muito de anotações, acho que todo poeta ou
escritor gosta, porque uma frase pode se tornar um poema, duas ou três linhas
em prosa uma crônica ou um conto. Mas estou tentando ultimamente algo mais
beat, isto é, uma escrita espontânea, deixar as ideias simplesmente caírem no
papel e ver no que dá, sem maquiagem, sem trabalhar o texto, talvez fique mais
pobre aos olhos da crítica, mas me soa mais verdadeiro.
RP:
Consegue escrever em qualquer lugar? Ou tem um lugar
reservado para isso?
TL:
Consigo pensar literatura em qualquer lugar, até dirigindo, mas escrever não.
Esses pensamentos depois vão para o papel. Não tenho nenhum lugar reservado,
mas gosto de estar sozinho, concentrado, sem ninguém conversando ao meu lado.
Música e álcool ajudam, mas não são fundamentais.
RP:
Já sentiu bloqueio? Se sim, como lidou com ele?
TL:
Todo dia... Escrever é romper a inércia
mundana. Quando você consegue se livrar das amarras do mundo e mergulhar dentro
de você mesmo, aí sim o bloqueio vai embora... Alguns dias eu consigo com
facilidade, em outros escrever é uma guerra, cada palavra é uma punhalada no muro
que te prende. Escrever é difícil, não escrever é impossível.
RP: Tem algum segredo para se manter inspirado?
TL:
Sim... Ler e observar. Outros escritores me
inspiram, me dão ideias, me deixam mais sensíveis à minha literatura. Esse
diálogo é fundamental, assim como perceber o que acontece ao nosso redor. O
cotidiano, as pessoas, a forma como elas falam, tudo isso é ingrediente
literário.
RP: Os escritores têm a necessidade de dizer algo
ao mundo. Sente-se como portador de uma visão de mundo a ser compartilhada?
(Acho que esta pergunta caiu no óbvio.)
TL:
Já fui mais espiritualista nesse sentido,
aquela visão do Romantismo do escritor possuir uma verdade que deve ser revelada ao mundo, de ter um dom divino que deve ser
compartilhado com a humanidade... Hoje, estou mais ateu em termos de literatura. Todos temos uma visão de
mundo, e quanto mais desgarrada do senso comum, mais literária ela se torna, na
minha opinião. Mas eu não tenho verdades: sou um grande mentiroso... rs
RP:
Em sua opinião, qual é a importância do
escritor hoje?
TL:
Academicamente, a resposta seria fácil, e tem aquele
clubinho que todo mundo conhece... Machado, Castro Alves, José de Alencar... mas a pergunta
se torna difícil se pensarmos socialmente... eu nunca parei
pra pensar sob a ótica de quem não está diretamente ligado à literatura ou que
não tem o hábito de leitura. Você só sabe a importância de um lixeiro na
sociedade quando ele faz greve e o lixo se acumula pelas ruas... É assim com
quase todas as profissões... De um médico quando fica doente, de um motorista
de ônibus quando precisa ir pro trabalho... Mas um escritor... Eu acho que eu, enquanto escritor,
não tenho importância nenhuma para a sociedade. Enfim, existe toda
aquela coisa da literatura te auxiliar na sua relação com o mundo, e o escritor
ser o cara que te guia por esse labirinto, mas vejo na minha “desimportância” uma coisa
quixotesca... É uma aventura... Não são só moinhos de vento,
não podem ser só moinhos de vento! E quando você passa a enxergar a vida como
uma aventura, enfrentando os dragões do cotidiano, escritores se tornam mais
importantes do que o apresentador do programa de sábado à tarde ou o camisa 10
da seleção.
RP:
Bravo! é um romance cuja história gira em torno de Cris Iório, letrista e vocalista de uma banda de sucesso. Ele é
sensível, polêmico, inteligente e cheio de problemas e feridas na alma.
Há traços autobiográficos em seu romance? Cris Iório é seu alterego?
TL:
Sim, posso dizer que sim.
RP:
Quando e como surgiu a ideia de escrever a história de Cris?
TL:
Sempre gostei muito de rock e de alguns
artistas como Renato Russo, Cazuza, John Lennon, Jim Morrison... Então, o
Cris carrega muitas semelhanças biográficas desses ícones do
rock. Junto com isso, vem a questão autobiográfica, que eu gosto de usar de forma a
confundir realidade e ficção, para que o leitor se questione mesmo: isso
aconteceu? Lógico que o Cris é uma invenção, mas as coisas vivenciadas pelo personagem
são baseadas em fatos reais? Não sei. Não respondo sobre isso.
RP:
Foi uma tarefa difícil escrever sobre um personagem tão atormentado e
deprimido? Isso gerou uma sobrecarga emocional?
TL:
Sim. Beijei demônios para escrever esse livro. Foi difícil. Tenho alguns
projetos com o personagem, um livro de contos e outro romance, mas foi tão
desgastante que deixei pra lá... Talvez um dia escreva novamente sobre o Cris, por
hora, sigo sozinho. Cris Iório está de férias por tempo indeterminado.
RP:
O romance começa com textos jornalísticos. Agrada-lhe a ideia de ser
comparado a Jorge Amado?
TL:
Soa como um elogio, embora eu não goste de
comparações.
RP:
Poesia não é um gênero muito publicado; no entanto, estão à venda os livros Fragmentos
Noturnos e Fragmentos de um Vencido. A que você atribui a
recepção e publicação dos seus versos?
TL:
Precisava publicar, é um rito pelo qual todo poeta ou escritor deve passar. Preferi começar pela
poesia porque foi o meu caminho inicial na literatura, daí a lançar Fragmentos
Noturnos em 2012. Com Fragmentos de um Vencido, apareceu a oportunidade
de publicar em Portugal em 2013 e eu aproveitei. Talvez escreva mais um livro de poemas em
fragmentos para completar a trilogia.
RP:
Se tivesse de escolher, que seria: parnasiano ou modernista? E por quê?
TL:
Modernista. Prefiro a liberdade e a temática cotidiana dos modernistas. Parnasiano
tem som de mofo e cheiro acinzentado.
RP:
Acompanha a edição de seus livros? Já viu alguma alteração feita por
revisores que não tenha sido aprovada por você?
TL: Eu
fiz a revisão dos três livros. Ainda não passei por essa experiência
desagradável de ter um sabichão me ensinando a escrever os meus textos... rs... Mas quando
respeitam a liberdade criativa do artista, desempenham uma função importante,
limpando o texto de impurezas (os erros de digitação, por exemplo),
permitindo um trabalho final mais belo para o leitor.
RP:
Obrigado pela entrevista. Agora, a última pergunta: Gostaria de deixar um recado
para seus fãs e leitores?
TL:
Leiam!!!