Não defendo a família, e quem acompanha minhas publicações no Facebook sabe que já disse que ideal é a realidade do romance "Admirável mundo novo", em que não há pai nem mãe. Mas, hoje, é inevitável a formação de famílias nucleares (formadas por pais, mães e filhos). Um dos modelos "novos" é aquele em que homossexuais criam filhos. Não defendo este modelo, mas é estupidez atacá-lo com base na premissa de que ele é anormal, não natural e errado por supostamente incentivar a homossexualidade ou o homossexualismo, características de minorias que, para os homofóbicos, põem em xeque a perpetuação da espécie humana.
Sendo uma instituição, a família nuclear não é estanque: está sujeita às modificações do tempo, tempo esse que testemunhou o direito ao divórcio, outrora visto como destruidor da família (como se o que importasse fosse o casamento, e não a felicidade) e a liberdade das mulheres. O que define a aceitação da instituição da família não são as regras da natureza, que não depende do ponto de vista de ninguém para que seus componentes, tais como o sol, a lua e a gravidade, sejam aceitos como uma realidade. O que define a aceitação da família são as normas e os costumes, modificados com o passar do tempo. São eles o que determina o que é normal. Portanto, o modelo "certo" de família não é apenas o tradicional, que, infelizmente, é visto como tão natural quanto o sol e a lua. A prova de que nenhum modelo é natural (embora todos sejam normais dentro de suas respectivas normas) é que existem a bigamia e a poligamia. "A união homoafetiva", dizem os tolos, "não é natural, e por isso não deve ser permitida legalmente." Aos que não reconhecem a diferença entre as determinações da natureza e as dos costumes humanos deve ser transmitida a ideia já difundida no Facebook, que se resume nisto: Nunca se viram cães evangélicos ou católicos; portanto, as doutrinas evangélica e católica não são naturais, o que dá margem, dentro da linha de pensamento dos homofóbicos, a que se queira o fim delas.
Outra contestação muito frágil é a que prega que a única normalidade válida é a dos casais héteros por serem eles a maioria. Quem assim pensa esquece que nos linchamentos (que, por definição, NÃO pressupõem julgamento nem apuração) também impera a vontade da maioria, vontade essa que pode causar a morte de inocentes.
É muita burrice dizer que crianças podem se tornar homossexuais por causa dos criadores. Com efeito: a maioria dos chamados gays foi criada por casais heterossexuais. Infere-se que não se sustenta o argumento baseado na corrente behaviorista (comportamentalista) da Psicologia (que, aliás, não é a única), usado por Silas Malafaia (para a alegria de fundamentalistas). Quantas crianças são criadas apenas pela avó e pela mãe (sem homem,portanto)?
Quanto à perpetuação da espécie, é preciso mostrar a seus defensores que estamos no século XXI, em que a tecnologia garante a continuidade da nossa raça.
Quem quiser condenar a família nuclear formada com a união homoafetiva, que condene, mas que "saia do armário": que se assuma como alguém homofóbico. Quem estiver disposto a defender a família terá de suar muito para isso, pois ela, independentemente de seu modelo, é falha, principalmente quando é patriarcal.
(Duque de Caxias, em 5/1/2015, no Facebook.)
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