PÓS-MORTE SURREALISTA
Às vezes fico a pensar: “Que será de mim quando eu morrer? Que acontecerá
comigo? Para onde irei?”
Este corpo deixará de ser o que é: transformar-se-á em
matéria desorganizada: será inevitável a decomposição. Até aí, nenhuma novidade. E depois? Minha alma irá para algum lugar?
Se sim, como irá para onde for sem matéria que a abrigue?
Supondo que a morte dará fim à dor da vida (eis um bom título para uma
telenovela!), e supondo que minha alma precise de um “abrigo”, acho que, depois
de enterrado, virarei mato. Esse mato será abocanhado, mastigado, engolido e
digerido por uma vaca (embora aquele animal não seja criado em cemitério). Então, ele, isto é: eu, será expelido por vias normais
em forma gasosa — o que não será bom para o meio ambiente, segundo algumas
pessoas.
Em forma de gás, chegaria às alturas, até à atmosfera, onde reteria
os raios solares. Diante do Ozônio, diria:
— Eu sou o Metano, e você, um fraco. Não pode impedir que os raios do
sol entrem em enorme quantidade. Irei retê-los, e assim farei um enorme estrago
no planeta para me vingar da sociedade, que me obrigou a trabalhar e a sofrer.
Com essa atitude, ficaria a flutuar.
(Duque de Caxias, 25 de junho de
2012; 26 de dezembro de 2013.)
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