sábado, 18 de agosto de 2012

PÓS-MORTE SURREALISTA

       Às vezes fico a pensar: “Que será de mim quando eu morrer? Que acontecerá comigo? Para onde irei?”
       Este corpo deixará de ser o que é: transformar-se-á em matéria desorganizada: será inevitável a decomposição.  Até aí, nenhuma novidade.  E depois? Minha alma irá para algum lugar? Se sim, como irá para onde for sem matéria que a abrigue?
       Supondo que a morte dará fim à dor da vida (eis um bom título para uma telenovela!), e supondo que minha alma precise de um “abrigo”, acho que, depois de enterrado, virarei mato. Esse mato será abocanhado, mastigado, engolido e digerido por uma vaca (embora aquele animal não seja criado em cemitério). Então, ele, isto é: eu, será expelido por vias normais em forma gasosa — o que não será bom para o meio ambiente, segundo algumas pessoas.
       Em forma de gás, chegaria às alturas, até à atmosfera, onde reteria os raios solares. Diante do Ozônio, diria:
       — Eu sou o Metano, e você, um fraco. Não pode impedir que os raios do sol entrem em enorme quantidade. Irei retê-los, e assim farei um enorme estrago no planeta para me vingar da sociedade, que me obrigou a trabalhar e a sofrer.
       Com essa atitude, ficaria a flutuar.

                                                   (Duque de Caxias, 25 de junho de 2012; 26 de dezembro de 2013.)

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